Plano de ação conjunta de órgãos gestores e polícias sanou problema em Recife
Pode parecer mais prático o transporte clandestino, contudo, além de gerar insegurança para os próprios passageiros, não atende a demanda da população, principalmente aos estudantes e portadores de gratuidades, e gera um prejuízo para a mobilidade urbana de todos, uma vez que no trânsito os congestionamentos permanecem crescentes com o volume de veículos particulares. Enquanto isso, o ônibus, transporte de massa que ocupa menor espaço nas vias proporcionalmente pelo número de pessoas que transporta, sofre a queda do número de passageiros. Somente este ano, considerando de Janeiro a Julho, comparado com o mesmo período de 2017, o transporte público coletivo de Aracaju sofreu uma redução de mais de 2,144 milhões de passageiros. Sendo ainda mais agravante se compararmos o ano de 2017 com 2014, foram 15,9 milhões a menos de passageiros.
Em Aracaju e nas demais cidades da Região Metropolitana o transporte clandestino segue atuando por todos os lados. Sem segurança, nem regulamentação, veículos particulares acumulam-se pelas vias explorando o transporte coletivo. Além desses, muitos dos chamados “Táxis Lotação” também atuam fora dos padrões estabelecidos em acordo firmado com a Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito e Ministério Público Estadual, quando limitaram o uso dos mesmos apenas para os embarques e desembarques feitos em locais específicos no Centro da capital. No entanto, existem diversos pontos de embarques irregulares, principalmente em horários de pico, por todos os lados da cidade – Avenida Desembargador Maynard, Ruas Laranjeiras e São Cristóvão, no bairro Porto Dantas, em frente a Clínicas, Hospitais, Shoppings, Faculdades, e demais vias que operam o transporte coletivo.
O transporte clandestino por motos também é um marco em Aracaju. Em 2016, o Sindicato Sindicato dos Mototaxistas de Aracaju e Sergipe, apontou um número de 5 mil mototaxistas atuando pela capital entre o serviço de frete e o transporte remunerado de pessoas. Esses motociclistas realizam embarques até nas proximidades dos Terminais de Integração do transporte público coletivo, e, de acordo com dados dos órgãos de trânsito, contribuem com o número de acidentes de trânsito.
Em Maceió, a realidade é parecida. No primeiro semestre de 2018, o Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Passageiros (Sinturb) registrou 730 veículos com atividade clandestina de transporte passageiros. Os veículos foram flagrados fazendo o transporte irregular de passageiros em diversos bairros da capital. O levantamento foi feito por fiscais do Sinturb durante os seis primeiros meses deste ano. Foi registrado bairro, ponto, hora, placa e modelo do veículo. De acordo com o levantamento do Sinturb, se os 730 veículos fazem pelo menos uma viagem por dia transportando quatro passageiros, chega-se a números alarmantes: uma média de 3 mil passageiros por dia, 90 mil por mês.
Outra realidade
Em Recife, a realidade era a mesma 15 anos atrás, mas chegou ao fim. “No ano de 2003, Recife contabilizava mais de 7 mil carros de transporte clandestino, transportando passageiros e atuando nos principais corredores de transporte com condições precárias de segurança e sem o ordenamento, atingindo a fluidez das vias e repercutindo negativamente na eficiência do transporte público, que além da perda de demanda, teve seus tempos de viagens bastante comprometidos”, contou o engenheiro e especialista em transporte, João Tércio, que é técnico no sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Pernambuco (Urbana- PE). Os passageiros de ônibus, que representam 70% da população, tinham seus percursos prejudicados em relação ao tempo de duração de cada trajeto das linhas pelo volume de veículos nos constantes congestionamentos.
Porém, conforme a engenheira civil e especialista em transporte, Taciana Ferreira, que atualmente preside a Companhia de Trânsito e Transporte Urbano de Recife, para enfrentar o problema do transporte clandestino, a Prefeitura de Recife, o Órgão Gestor do Transporte, o policiamento Municipal, Estadual e Federal, e o Governo do Estado se uniram para aplicar ações estratégicas. “A prefeitura sancionou uma lei que tratou do Serviço de Transporte Complementar, definindo multas para os veículos egressos no valor de R$ 2 mil e remoção do veículo. Foram criados bloqueios na entrada do Município e a segurança nesses bloqueios foi garantida com apoio da Guarda Municipal e do Batalhão do Policiamento de Trânsito. Nesses pontos, ônibus foram disponibilizados pelas empresas do transporte público coletivo para cada parada dos bloqueios, a fim de garantir a continuidade da viagem dos passageiros gratuitamente”, disse Taciana Ferreira.
De acordo com os especialistas, sem esse ordenamento do transporte coletivo, a mobilidade urbana em Recife estaria em dificuldades semelhantes a Aracaju. “Esse plano de ação conjunta foi essencial e contribuiu para o enfrentamento do transporte irregular em Recife, que dos 7 mil veículos clandestinos, hoje tem apenas 150 veículos que foram selecionados mendicante licitação pública para operar em linhas com roteiros e tarifas previamente definidas pela Prefeitura”, completou a especialista de Recife.
Por Raissa Cruz, jornalista.